Hospital tem dívida milionária
O colapso financeiro da Santa Casa de Campo Grande chegou ao seu ápice nesta semana. O maior hospital de Mato Grosso do Sul não tem mais recursos próprios ou formas para conseguir novos empréstimos e com isso, de acordo com autoridades de saúde ouvidas pelo Correio do Estado, os atendimentos podem ser prejudicados.
A reportagem apurou que a dúvida total com empréstimos chega a R$ 300 milhões. Desde 2013, a Santa Casa da Capital está mergulhada em dívidas com agentes financeiros, em decorrência de empréstimos cujos valores só aumentam.
Porém a última informação oficial é das demonstrações contábeis do hospital, publicadas no Diário Oficial de Campo Grande (Diogrande) do 24 de abril deste ano – o balanço financeiro publicado é igual ao publicado em dezembro do ano passado. Os documentos mostram que, no dia 20 de dezembro de 2013, a entidade obteve empréstimo com a Caixa Econômica Federal (CEF) de R$ 80 milhões, a uma taxa de juros efetiva mensal de 1,21%, com prazo de amortização de 84 meses.
Em 31 de março de 2017, um novo empréstimo foi feito pelo hospital também com a CEF, de R$ 100 milhões, a uma taxa de juros efetiva mensal de 1,75% e prazo de amortização de 120 meses. O dinheiro serviu para quitar empréstimos que já haviam sido feitos com o banco Santander e cujos valores não foram mencionados.
Em 30 de novembro de 2017, a entidade optou por realizar um novo empréstimo na Caixa Econômica, desta vez, o montante foi de R$ 30 milhões, a uma taxa de juros efetiva mensal de 1,53%, com prazo de amortização de 120 meses. Somados, os valores ultrapassava R$ 210 milhões, e ao fim de 2017 a dívida do hospital com os bancos estava em R$ 177.776.985.
Agora a última cartada da diretoria da Associação Beneficente (ABCG) é a tentativa de empréstimo no valor de R$ 10 milhões com um banco de São Paulo. Mas com toda a margem comprometida, a Santa Casa precisou de aval da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) para conseguir formalizar o empréstimo. A pasta confirmou ter avalizado, porém somente com avala da Procuradoria-Geral do Município (PGM).
E mesmo com a anuência da Secretaria, as contas do hospital permanecem sob sigilo absoluto para a prefeitura. “Essa dívida só aumenta. Em outubro termina o convênio do município e vamos ter que renovar. Eu não sei como vai ser, pois está difícil a negociação”, disse uma fonte que preferiu não ser identificada.
Ele observou que qualquer que seja a quantia repassada para a Santa Casa, o valor sempre será insuficiente. “A gente pode entregar qualquer repasse, sempre estão devendo funcionários, fornecedores, tudo. Nenhuma quantia basta”, afirmou.
Para conseguir o valor do empréstimo a tempo de quitar algumas das dívidas e impedir uma greve geral foi montada uma verdadeira força-tarefa. O secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, recebeu o presidente da ABCG, Esacheu Nascimento na segunda-feira (30), que pediu a conivência do município com o novo empréstimo. “Na verdade o repasse feito fica uma parte já com a União, nem chega na conta do hospital, para quitar a algumas dívidas com bancos federais. E o que vem mesmo não é o valor cheio do que o município deposita (por mês são aproximadamente R$ 24 milhões)”, disse.
O titular da Sesau viajou para Brasília (DF) e por isso deixou seu aval para o empréstimo, com ressalva. Era necessário parecer da PGM para que o mesmo fosse validado. “A PGM analisa a legalidade da cessão de direito de crédito a ser realizado entre a Santa Casa e instituição financeira credenciada pelo Ministério da Saúde. A cessão de crédito é regulamentado. A contratação do empréstimo pretendido vai depender do atendimento dos requisitos delimitados pela regulamentação”, afirmou o procurador-geral do município, Alexandre Ávalo.
Para informar sobre a situação financeira, a direção da ABCG convocou uma reunião extraordinária que será nesta sexta-feira (4), às 9h. No convite Nascimento chama todo o corpo clínico para a reunião sobre a “situação econômica e financeira da Santa Casa”. Ele foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações.
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