TRANSPARÊNCIA – Telefones revelados no STJ ligam filho de Reinaldo à ‘gerência’ de propina da JBS na Sefaz-MS

Joesley forneceu número usado nas negociações que é ligado a escritório jurídico de Campo Grande

O empresário Joesley Batista, presidente da Holding J&F e ex-diretor da JBS, revelou em novo depoimento à Polícia Federal que o filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), Rodrigo Souza e Silva, assumiu a gerência da propina na Sefaz-MS (Secretaria de Estado de Fazenda de Mato Grosso do Sul) logo no início da gestão tucana, em 2015.

Implicado em denúncia de roubo majorado porque seria o mandante de um roubo de propina que deu errado e por ter supostamente encomendado uma execução, Rodrigo Silva é citado no depoimento de Joesley Batista ao inquérito 1190, que tramita no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Em novos depoimentos aos quais o Jornal Midiamax teve acesso, Joesley revela que foi ele quem tratou com Reinaldo sobre os pagamentos de propina, bem como sobre o percentual de 30% que lhe seria pago. Rodrigo teria intermediado os pagamentos ao pai, parte em espécie, e a maior parte por meio de notas fiscais fraudulentas, fornecidas pelo próprio tucano à JBS.

Telefones de Rodrigo

Joesley declara que não recorda se chegou a realizar contatos via celular com Reinaldo após as eleições, mas que durante a campanha em 2014, eles teriam se falado por números de telefone tanto do tucano como do filho dele.

Para comprovar o fato, Joesley passou um número fixo e um celular de Rodrigo Silva à Polícia Federal. Essas linhas seriam usadas, segundo o delator, para realizar ‘tratativas em geral do interesse de Reinaldo’. O Jornal Midiamax confirmou que as duas linhas são usadas até hoje por Rodrigo, tanto o número fixo como a linha de celular de uso pessoal.

Pelo número de telefone fixo fornecido no depoimento, trata-se de uma linha do escritório de advocacia onde Rodrigo Souza e Silva trabalha. Ele e os sócios constam como procuradores municipais em diversas cidades de Mato Grosso do Sul, representando as localidades principalmente em defesas realizadas no TCE-MS (Tribunal de Contas Estadual de Mato Grosso do Sul).

Cidades como Água Clara e Nova Alvorada do Sul foram defendidas por Rodrigo Silva e os advogados do escritório em recursos que tramitaram em abril deste ano no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e no Tribunal de Contas em 2012, respectivamente.

Já no celular ainda em uso pelo filho do governador, a reportagem tentou contato, mas as ligações não foram atendidas ou foram desligadas. Pelo WhatsApp, as mensagens não foram respondidas. A reportagem apurou junto a um cadastro que precisa ser mantido atualizado que o número é o usado atualmente por Rodrigo.

Reinaldo e Joesley

No mesmo dia, o diretor de tributos da empresa, Valdir Aparecido Boni, relatou à Polícia Federal de São Paulo, onde as oitivas foram realizadas para o inquérito do STJ, que enquanto era deputado federal, Reinaldo Azambuja já havia intermediado um encontro entre Joesley Batista com um político do PSDB em Belém, no Pará.

Segundo Boni, o ex-chefe e o político trataram de ‘assunto técnico e republicano’ do interesse da empresa JBS, demonstrando que Reinaldo e o delator se conhecem antes das informações sobre o suposto esquema de propina em Mato Grosso do Sul.

Novos depoimentos

Após a delação premiada realizada, o STJ convocou Joesley e Wesley Batista, além do diretor de tributos da empresa, Valdir Aparecido Boni, para esclarecerem pontos dos depoimentos em novas oitivas.

Os três foram ouvidos novamente em São Paulo pela Polícia Federal de Brasília, que conduz as investigações do inquérito 1190. Todos tiveram que depor na condição de colaboradores da Justiça e precisaram responder às perguntas formuladas, apresentando os esclarecimentos necessários e fornecendo eventuais documentos que estavam com eles e que ainda não haviam sido apresentados.

Na ocasião, Wesley apresentou um pen drive com as notas fiscais que teria recebido de Reinaldo Azambuja no suposto esquema que ficou conhecido como ‘bois de papel’, que teria, inclusive, sido criado pelo governador, de acordo com o depoimento.

Como colaboradores, segundo consta nos documentos, os três estavam sujeitos ao compromisso legal de dizer a verdade e renunciaram o direito ao silêncio (art. 5°, §14, da Lei n° 12.850/13), além de ficarem cientes que durante a investigação criminal seria apurada a efetividade da colaboração a partir da análise das provas apresentadas, dos dados fornecidos por outros colaboradores e dos elementos de prova já obtidos, ou ainda, por obter.

‘Bois de papel’

Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, e o diretor de tributos da empresa, Valdir Aparecido Boni, revelam que o governador tucano teria, ele próprio, articulado o funcionamento e indicado fazendeiros e frigoríficos para emitirem as notas fiscais frias. Entre os ‘parceiros’, estariam apoiadores políticos e secretários de estado. Reinaldo Azambuja nega tudo.

No entanto, as versões apresentadas pelos três se sustentam e foram confirmadas com documentos, datas registradas em agendas oficiais e até prints de conversas por aplicativos de mensagens como o WhatsApp.

Azambuja começou a governar o Mato Grosso do Sul em 2015, quando teria recebido, segundo os delatores, mais de R$ 70 milhões, sendo abatidos o valor total adiantado em campanha, de R$ 17 milhões, conforme fora acordado, gerando um crédito de aproximadamente R$ 53 milhões.

O restante do crédito que Reinaldo mantinha com a JBS, segundo Wesley, foi pago por meio das notas fiscais fraudulentas geradas por empresas indicadas pelo governador, cerca de R$ 33,5 milhões e R$ 20 milhões entregues em espécie. Neste período, foram recebidos créditos tributários adicionais, decorrentes dos Termos de Acordo, R$ 110 milhões em 2015 e R$ 99,7 milhões em 2016.

O advogado de Reinaldo, Gustavo Passarelli, já afirmou à reportagem do Jornal Midiamax que seu cliente mantém ‘serenidade e tranquilidade’ diante dos fatos novos detalhados nas delações.

“É uma colaboração desacreditada, tanto que está sendo rescindida pela Justiça. Ela está contaminada desde a origem”, argumenta Passarelli. Ele também cita a suposta participação do ex-procurador Marcelo Miller na elaboração do acordo, um dos motivos usados para desacreditar a delação premiada.

O advogado alega que mesmo após tentativa do MPF (Ministério Público Federal) de anular a delação, os irmãos Batista ‘não trouxeram (ao processo) nenhum documento’ que comprovassem pagamento de propina a Azambuja. Desta vez, no entanto, Wesley detalhou não somente as datas, como locais e até operadores envolvidos nos supostos pagamento das propinas em um pen drive anexado ao Inquérito 1190.

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