Saiba por que os analistas têm revisado para cima as estimativas de crescimento do Brasil em 2022, mas enxergado uma desaceleração da economia a partir do segundo semestre.
Os números da economia brasileira no 1º trimestre vieram positivos, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo acima do inicialmente projetado por analistas e pelo mercado financeiro – mas dentro das projeções mais recentes.
Dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE mostraram que o PIB do Brasil cresceu 1% de janeiro a março deste ano, na comparação com os três meses anteriores.
A normalização mais rápida do setor de serviços – o mais atingido pela pandemia e de maior peso no PIB – e indicadores positivos nos últimos meses têm levado a uma revisão para cima das projeções para a alta do PIB no ano, ainda que a perspectiva seja de desaceleração da economia no 2º semestre e de piora da atividade em 2023 em meio à inflação persistente, juros em alta e maior incerteza global e doméstica.
Até março, a expectativa do mercado era de uma alta de 0,5% em 2022. Agora, boa parte dos economistas e analistas apontam para um avanço do PIB acima de 1% no ano, enquanto o governo mantém a projeção de alta de1,5%. Por outro lado, parte das previsões para 2023 têm sido revistas para baixo, com algumas casas apontando para um crescimento até mesmo abaixo de 0,50%.
1. Surpresas positivas nos indicadores econômicos
Os resultados do comércio e do setor de serviços surpreenderam no 1º trimestre. O volume de serviços prestados no Brasil alcançou em março o maior nível desde maio de 2015, superando em 7,2% o patamar pré-pandemia. Já as vendas no comércio tiveram a primeira alta depois de dois trimestre de queda, rodando 2,6% acima do volume pré-Covid.
Indicadores antecedentes apontam também para um bom começo de 2º trimestre. Termômetro da Boa Vista que acompanha o desempenho das vendas no varejo no país aponta uma alta de 1,1% na passagem de março para abril.
A indústria, por sua vez, segue prejudicada pelos gargalos nas cadeias globais de fornecedores e problemas associados à falta de insumos. Mas, mesmo operando ainda abaixo do patamar de antes do início da pandemia, a produção manufatureira cresceu 1º trimestre, interrompendo uma sequência de 4 quedas trimestrais seguidas.
“O crescimento vem surpreendendo positivamente no Brasil. Não foi extraordinário, embora certamente melhor do que as estimativas do mercado até o 3° trimestre, quando o PIB teve um desempenho ligeiramente negativo e alguns começaram a esperar uma recessão começar”, afirmou o banco UBS, ao atualizar sua projeção para o crescimento da economia brasileira para alta de 1,1% em 2022.
2. Normalização mais rápida de serviços
O pandemia em situação mais controlada e o fim da maioria das restrições contribuíram para uma normalização mais rápida do setor de serviços e avanço da recuperação de atividades presenciais como turismo e lazer, cuja demanda foi fortemente reprimida nos últimos dois anos.
“Do lado da oferta, a maior surpresa foi em serviços, que é o setor que responde pela maior parte do PIB”, afirma Rodrigo Nishida, economista da LCA Consultores, que até o início de maio projetava uma alta de 0,7% no PIB em 2022, e agora já vê um crescimento de pelo menos 1,2%.
A recuperação mais rápida do setor coincide com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a redução do número de casos graves no país.
Além do efeito da maior circulação da população, os serviços também têm sido menos castigados pela aceleração da inflação do que outros setores. Em 12 meses até abril, o ritmo de reajuste nos preços dos serviços acumula alta de 6,94%, pouco mais da metade da inflação oficial do país.
3. Salto nos preços das commodities
A expressiva valorização dos preços internacionais das commodities energéticas, metálicas e agrícolas após a invasão da Ucrânia pela Rússia favoreceu a balança comercial brasileira e, por consequência, a economia brasileira no começo de 2022.
Em março, o país registrou superávit recorde de US$ 7,4 bilhões.
Foi o maior saldo comercial, para meses de março, desde o início da série histórica em 1989.
A guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia tem restringido e encarecido as importações de alguns produtos como fertilizantes e trigo, mas, ao mesmo tempo, fez disparar o preço de itens como petróleo, soja e minério de ferro — beneficiando exportadores e atraindo recursos ao país. Vale lembrar que as commodities explicam mais de 60% das exportações brasileiras.
“Temos um ano começando relativamente bem, com a saída da pandemia melhorando os serviços e as commodities ajudando por conta dos preços. Isso ajuda muito na composição do PIB do ano, que vai acabar tendo um resultado melhor do que se imaginava”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que passou a projetar um crescimento próximo de 1% em 2022, ante estimativa anterior de 0,5%.
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