Apresentador Silvio Santos não resistiu a uma broncopneumonia causada pelo vírus H1N1 e morreu em São Paulo (SP)
O Brasil está de luto. Morreu, aos 93 anos, o apresentador e empresário Silvio Santos. Talentoso e visionário, o eterno Dono do Baú da Felicidade deixa um grande legado à televisão brasileira, juntamente com sua marca registrada: a alegria e a irreverência.

A arte de atrair o público começou cedo. Aos 14 anos, Silvio Santos vendia canetas percorrendo as calçadas da av. Rio Branco, no Rio de Janeiro. Para driblar a concorrência, o rapaz montou uma barraquinha e passou a vender seu produto fazendo números de mágica. O sucesso foi grande e, com isso, Silvio precisou contratar dois ajudantes. Mas não demorou muito para que o trio fosse pego pela fiscalização. Renato Meira Lima, o fiscal, ficou surpreso com o timbre de voz e boa aparência de Silvio e então lhe estendeu um cartão para que tentasse a sorte na rádio Guanabara.

O emprego conquistado por intermédio do fiscal durou apenas um mês. Como camelô, Silvio ganhava mais dinheiro do que como locutor. Aos 18 anos, ele então ingressou na escola de paraquedismo do Exército Brasileiro, em Deodoro, zona rural do Rio de Janeiro. Nas horas vagas, trabalhava de graça nas rádios cariocas. E foi nessa época que o apresentador tratou de mudar de nome. A mãe, Rebeca Abravanel, sempre o chamou de Silvio. O “Santos” veio da devoção religiosa.

O deslocamento de Silvio de casa para o trabalho acontecia por meio de uma embarcação. Todos os dias, o apresentador atravessava a baía de Guanabara em um barco simples e silencioso. Até que ele teve a ideia de instalar alto-falantes para animar os passageiros. Também fechou com a Antarctica uma parceria para vender cervejas e refrigerantes. Entre uma música e outra, Silvio fazia propaganda de produtos e quem comprasse uma bebida ganhava uma cartela de bingo para concorrer a prêmios. Talentoso no ramo dos negócios, Silvio não parou mais de criar e inventar.

O primeiro programa comandado por Silvio Santos na televisão foi o “Vamos Brincar de Forca”. A atração era exibida pela TV Paulista, que depois foi incorporada à TV Globo. No canal, o comunicador foi ganhando espaço e audiência com o “Show de Calouros”, o “Show da Loteria, o Vamos Fazer Média”, o “Disco de Ouro”, o “Quem Sabe Mais: o Homem ou a Mulher?”, o “Sinos de Belém” e o “Boa Noite, Cinderela”.

A empresa não foi criada pelo comunicador, mas, sim, pelo humorista e radialista Manuel da Nóbrega, pai de Carlos Alberto de Nóbrega, do humorístico “A Praça É Nossa”. O negócio não ia bem, até que Silvio, aos 27 anos, propôs a compra da empresa. A pessoa que adquirisse o Carnê de Mercadorias e tivesse com o pagamento das mensalidades em dia concorria a sorteios e prêmios. Após um ano, esse mesmo cliente poderia trocar o carnê antigo por mercadorias à sua escolha nas lojas do Baú da Felicidade. O processo de extinção do Carnê do Baú começou em 2007, por causa de outras ofertas de crédito que o mercado passou a oferecer.

O sucesso que o apresentador fazia na telinha fez com que as vendas do Baú aumentassem dia a dia, ano a ano. Com uma boa quantia de dinheiro no bolso e um contrato fixo com a Globo, Silvio já articulava silenciosamente a compra de um canal de TV. Foi quando surgiu a oportunidade de adquirir 50% das ações da Record, deixando, assim, a TV Globo, no meio da década de 1970. Em outubro de 1975, o então general Ernesto Geisel assinou o decreto que outorgava o canal 11 (TVS) a Silvio Santos. Em pouco tempo, o apresentador abocanhou outros quatro canais… surgia aí o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT.

A atração teve sua estreia em 2 de junho de 1963. O programa, exibido durante todo o domingo, reunia uma série de atrações, entre elas “A Porta da Esperança” (foto), exibido entre 1984 e 1996. O quadro tinha como objetivo atender ao pedido ou a um sonho de um telespectador que, antes de se apresentar no palco, enviava à produção uma carta dizendo o que queria. Uma vez tendo sua história selecionada, essa pessoa ia ao palco da atração contar o motivo do pedido. Silvio mantinha o suspense, até que dizia o inesquecível bordão: “Vamos abrir as Portas da Esperança!”.

O programa de sucesso nada mais era do que uma gincana musical, em que os participantes tinham que mostrar seus conhecimentos na área, em uma série de provas. A primeira versão estreou em 1976, como parte do “Programa Silvio Santos”, ficando no ar até 1991. Em 1999, o programa retornou à grade da emissora totalmente reformulado, sendo apresentado até 2008. Na imagem acima, Silvio nos bastidores da atração com os garotos do grupo Menudo, em 1985.

Entre 1977 e 1988, o “Domingo no Parque” era a diversão da garotada. Num cenário de parque de diversões, equipes de duas escolas se enfrentavam em diferentes provas. Destaque também para “Cidade contra Cidade”, “Show de Calouros”, “Namoro na TV”, “Arrisca Tudo” e “Ela Disse Ele Disse”, entre outros.

No fim da década de 1980, o comunicador preocupou fãs e familiares com seu estado de saúde. O apresentador foi diagnosticado com edema de Quincke (uma desordem caracterizada por um inchaço do tecido subcutâneo, que afeta preferencialmente os tecidos moles do organismo). O maior risco da doença é quando ela afeta a caixa da voz, fazendo com que o paciente tenha dificuldades de respirar. O tratamento médico aconteceu nos Estados Unidos. Silvio melhorou e retornou às atividades.

No processo de recuperação da garganta, mais precisamente no ano de 1988, Silvio anunciou que queria se eleger prefeito da cidade de São Paulo, o que não aconteceu. Em 1989, ele tentou se candidatar à Presidência, mas, dias antes do pleito, o comunicador, líder nas pesquisas, teve a candidatura impugnada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) porque o registro do partido estava irregular.

Em novembro de 2010, Silvio Santos ganhou destaque nos noticiários. Dono do então Banco Panamericano, atual Banco Pan, o empresário sofreu um prejuízo no valor de R$ 2,5 bilhões. Questionado se venderia o SBT para liquidar a dívida, Silvio disse categoricamente, à revista Veja, que “não”. “A televisão não vendo. Vou fazer de tudo para não vender. Mas as demais empresas, por que não? Estou com quase 80 anos e não tenho interesse especial em bancos ou indústrias de cosméticos. Posso vender empresas e ficar com a televisão, que penso em deixar para minhas filhas, que se interessam por comunicações. Uma delas, a Daniela, já mostrou que gosta de televisão”.

É também importante relembrar o grupo empresarial fundado pelo apresentador, que possui 38 empresas e leva o seu nome. Dentre as mais conhecidas do público, estão a Jequiti Cosméticos, o Hotel Jequitimar e o Teatro Imprensa.

Em fevereiro de 2001, Silvio Santos foi homenageado no Carnaval do Rio de Janeiro pela escola de samba Tradição. O apresentador desfilou como destaque num carro alegórico, vestido com um terno prateado feito especialmente para a ocasião. Outros artistas do SBT também participaram.

Em julho de 2003, o apresentador concedeu uma entrevista que pegou todos de surpresa. À revista Contigo! o comunicador disse que estava com uma doença grave e que só tinha mais seis anos de vida. Afirmou também que, por causa do seu estado de saúde, venderia o SBT para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e para a Televisa, do México. Silvio contou costumava se internar em hospitais usando pseudônimos e que usava cadeiras de roda para se locomover. Tudo não passou, porém, de uma pegadinha. Ele contou que fez isso diante da insistência do repórter em fazer a entrevista — coisa que Silvio não gostava de fazer nem para seu próprio canal — e pensou que a revista entenderia a ironia.

Silvio Santos foi casado duas vezes. A primeira união aconteceu com Maria Aparecida Vieira, mais conhecida como Cidinha, que morreu de câncer na década de 1970. Com ela, o apresentador teve duas filhas: Cintia e Silvia. Depois, em 1978, o comunicador se casou com Íris Pássaro (foto), uma funcionária do Baú. Juntos, eles tiveram mais quatro filhas: Daniela, Rebeca, Patrícia e Renata.

Silvio Santos estava fora do ar há quase dois anos, desde que gravou o último programa no SBT, em setembro de 2022. O apresentador não teve uma despedida oficial nem anunciou a aposentadoria publicamente. Silvio já tinha diminuído o ritmo na época da pandemia de Covid-19 e, aos poucos, foi parando com as gravações, até deixar de aparecer nas telinhas.

Quem passou a ocupar o lugar do comunicador foi Patricia Abravanel, uma das filhas mais conhecidas dele. Entre uma participação e outra, a herdeira virou titular do programa do pai, e Silvio Santos nunca mais voltou.

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