Caracas propôs aos EUA um “madurismo” sem Maduro, revela jornal

Helicópteros militares dos EUA são vistos a 150km da costa venezuelana, no Mar do Sul do Caribe – (crédito: Reprodução)

Jornal Miami Herald divulga que a vice Delcy Rodríguez ofereceu à administração Trump um governo transitório em que o líder chavista estaria ausente. Trump teria rejeitado as duas ofertas

Helicópteros militares de forças especiais dos Estados Unidos foram identificados em sobrevoos a 145km da costa da Venezuela, no Mar do Sul do Caribe, nos últimos dias. A informação, divulgada após análise visual feita pelo jornal The Washington Post, elevou a tensão entre Washington e Caracas. Por sua vez, o jornal Miami Herald informou que autoridades venezuelanas — sob a liderança da vice-presidente Delcy Rodríguez e de seu irmão, Jorge Rodríguez, líder da Assembleia Nacional (chavista) — ofereceram aos EUA uma “alternativa mais aceitável” ao regime de Nicolás Maduro.

Duas propostas teriam sido feitas ao governo de Donald Trump: uma em abril e outra em setembro, sob a mediação do Catar. A primeira oferta previa a renúncia de Maduro, a exploração de recursos naturais pelos EUA e uma espécie de anistia ao líder chavista. A mais recente focava-se em um governo transitório liderado por Delcy Rodríguez e no exílio de Maduro no Catar ou na Turquia.Play Video

Na quarta-feira (15/10), Trump confirmou que autorizou operações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA) dentro da Venezuela e que cogitava realizar ataques terrestres contra cartéis do narcotráfico no país da América do Sul.

Analista do Programa Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, em Washington), Henry Ziemer explicou à reportagem que, se forem corretos, os relatos sobre a oferta de um governo transitório sublinham a profunda preocupação, dentro da Venezuela, com potenciais ataques militares dos EUA. “Não me surpreende que Trump tenha rejeitado a oferta. Dada a profunda impopularidade do governo Maduro na Venezuela e a centralidade de María Corina machado no movimento de oposição, parece improvável que o povo venezuelano tolere um governo de ‘chavismo leve'”, disse. “Os Estados Unidos provavelmente percebem que têm uma influência significativa sobre Maduro e seus aliados nas negociações e, portanto, continuarão a rejeitar os acordos oferecidos pela Venezuela”, acrescentou Ziemer.

“Uma das preocupações em relação aos ataques militares a embarcações venezuelanas está na forma com que os altos comandantes da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) poderão reagir. Parece que há uma opinião generalizada sobre uma transição democrática e não vejo espaço para um cenário onde os militare sejam protagonistas de uma transição interna no madurismo”, afirmou ao Correio a venezuelana María Isabel Puerta, professora de ciência política da Universidade Estadual do Colorado. Ao considerar inegável a escalada das ações militares no Mar do Sul do Caribe, a especialista crê que tanto Trump quanto Caracas desejam uma solução baseada na continuidade de um “madurismo” sem Maduro.

“Farsa”

Para o general de brigada aposentado venezuelano António Rivero González, várias informações sobre diálogos em relação a um processo de transição indicam que Maduro admite a impossibilidade de enfrentar a força militar dos EUA. “A recusa da Casa Branca em aceitar as supostas propostas deve-se ao fato de que elas não passam de uma mentira e uma farsa. Seria o mesmo que tratar de negociar e reconhecer um governo que os EUA têm desconhecido, de modo legítimo”, explicou ao Correio. “Delcy Rodríguez e seu irmão, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional (de maioria chavista), têm sido negociadores com Washington e contam com a ‘liberdade’ de visitar outros países para gestionar uma relação aberta com a Venezuela. Também buscam mostrar uma normalidade e uma legitimidade. Os EUA sabem com quem estão tratando.”

AS DUAS PROPOSTAS

Mediadores do Catar teriam apresentado aos Estados Unidos duas propostas de transição na Venezuela

Proposta 1 — Maduro renuncia e recebe proteção 

O presidente Nicolás Maduro renunciaria; permaneceria na Venezuela, com garantias para sua segurança; e negociaria um arranjo concedendo às empresas americanas acesso ao petróleo e às indústrias de mineração da Venezuela. Em troca, o plano sugere que os promotores dos EUA arquivem as acusações criminais contra Maduro. Delcy Rodríguez, atual vice, assumiria a Presidência da Venezuela. Essa proposta foi apresentada em abril passado. 

Proposta 2 — Delcy Rodríguez assume; Maduro busca exílio 

Por essa proposta apresentada ao governo Trump em setembro, Maduro seria substituído no poder por um governo transitório liderado por Delcy Rodríguez e pelo general aposentado Miguel Rodríguez Torres, ex-ministro do Interior e ex-chefe de Inteligência da Venezuela. O líder chavista poderia buscar exílio no Catar ou na Turquia.

EU ACHO…

“Uma transição de governo sem a presença de Nicolás Maduro não obedece à sinalização de que ele é o chefe de um cartel do narcotráfico. O Cartel de Los Soles é uma estrutura criminosa que persistirá, apoiada por Rússia, China e Irã. O regime busca alguma saída para ganhar tempo ou alguma via que lhes permita reduzir a pressão e a dissuasão, a fim de estabelecer um mecanismo de sustentação no poder.” 

António Rivero González, general de brigada aposentado da Venezuela

“Quem ou o que será alvo de ataques hipotéticos na Venezuela dirá muito sobre a estratégia que os EUA estão adotando no país. Caso se concentrem em atacar traficantes, isso provavelmente sinalizará que Trump não está interessado em uma escalada. No entanto, se começaram e atingir alvos militares venezuelanos, como sistemas de defesa aérea, poderão se ver arrastados para uma campanha em larga escala, potencialmente levando a uma mudança de regime.”

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