Ex-major da PM, Sérgio Carvalho é acusado de tráfico internacional de cocaína e é julgado com outros 30 réus
O julgamento do ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Sérgio Roberto de Carvalho, considerado um dos maiores traficantes internacionais de drogas e conhecido como Pablo Escobar brasileiro, foi adiado para o dia 12 de novembro, na Bélgica. Outros 30 acusados também são julgados.
De acordo com sites locais, o Tribunal decidiu pelo adiamento nessa segunda-feira (22) devido a vários pedidos de impedimentos terem sido protocolados após a última sessão de julgamento, realizada na última quinta-feira (18).
Na ocasião, a audiência foi encerrada após dois advogados terem sido retirados à força do tribunal.
O julgamento começou no dia 15 de setembro, quando foi interrompido após o advogado que representa Flor Bressers, um dos líderes do grupo criminoso, não concordar com uma das provas apresentadas contra o cliente e conseguir a suspensão da audiência.
O julgamento foi retomado na quinta-feira, quando houve novas divergências. Logo pela manhã, todos os quando todos os advogados se retiraram quando o juiz se recusou a dar a palavra para um deles. A audiência foi suspensa quando o presidente da Ordem dos Advogados foi chamado para intervir.
Na parte da tarde, o advogado de defesa criminal Louis De Groote tentou novamente usar a palavra, mas foi impedido e, mesmo assim, insistiu, até que o juiz Frederik Gheeraert ordenou que a polícia o retirasse da sala.
Conforme a imprensa da Bélgica, o juiz Frederik Gheeraert ordenou que o advogado de defesa criminal Louis De Groote fosse retirado do tribunal à força. O jurista teria sido retirado da Corte arrastado, “com força considerável”.
Durante a condução do advogado para fora, outro advogado tentou impedir e também foi retirado a força.
A partir daí, sete pedidos de impedimentos foram apresentados pela defesa dos acusados, contra três juízes que participam do julgamento. O primeiro pedido teria partido da defesa do Major Carvalho, para retirar o Gheeraert do caso.
Um dos advogados retirados à força da audiência também apresentou o pedido, afirmando que o curso de eventos violou o direito a um julgamento justo, tendo em vista que sua defesa não foi autorizada a falar durante a audiência.
Ainda segundo um jornal local, a juíza de imprensa do Tribunal de Flandres, Amélie Van Belleghem, disse que o pedido de impedimento é um direito fundamental, mas acarreta custo social.
“Isso exige uma reprogramação completa das agendas de várias pessoas. Isso afeta não apenas os três juízes e o escrivão, mas também o assistente do tribunal, o promotor público, os intérpretes, a polícia e os advogados”, disse.
Tráfico
Segundo a investigação, o grupo tinha dois grandes chefes, o núcleo europeu era comandado por Flor Bressers, já o sul-americano tinha como comandante o Major Carvalho.
Era do ex-PM a função de fazer a droga cruzar a fronteira do Brasil com o Paraguai para ser destinada até a Europa, onde Bressers cuidava da distribuição.
A investigação apurou que Bressers teria ganhado € 230 milhões (R$ 1,437 bilhão na cotação atual) com 10 carregamentos de cocaína, enquanto Sérgio Roberto de Carvalho teria arrecadado cerca de € 200 milhões (R$ 1,250 bilhão na atual cotação).
A investigação teve início em 2020, após a polícia apreender 3,2 toneladas de cocaína no porto holandês de Roterdã, escondidas em um carregamento de minério de manganês proveniente do Brasil.
O carregamento tinha como destino uma empresa de tratamento de água no porto belga de Antuérpia, suspeita de estar sendo usada como fachada pelos traficantes.
Após uma série de prisões na Bélgica, Espanha e Dubai, Flor Bressers foi detido em Zurique, em fevereiro de 2022, e extraditado no outono seguinte para a Bélgica. Já Major Carvalho foi preso na Hungria em 2023, ele estava com um passaporte mexicano falso e era procurado pelas polícias do Brasil e da Europa.
Segundo o The Guardian, os promotores do caso apontam que a apreensão ocorrida em 2020, em Roterdã, teria sido apenas a ponta do iceberg. A rede operada por Carvalho e Bressers é suspeita de ter importado toneladas de cocaína entre 2019 e 2020 para a Europa.
O julgamento ocorre em Bruxelas porque, apesar de o processo ter começado em Bruges, a transferência foi pedida porque as forças de segurança belga temem que os réus pudessem tentar fugir durante a audiência. A sessão ocorre em um tribunal na antiga sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Major Carvalho
Conhecido como “Pablo Escobar brasileiro” no Brasil, a Polícia Federal (PF) estima que Major Carvalho tenha movimentado R$ 2,25 bilhões entre os anos de 2018 e 2020, com exportações de 45 toneladas de cocaína à Europa, conforme a PF.
O ex-major ingressou na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul no fim da década de 1980 como comandante do Batalhão Militar de Amambai, área de fronteira do Estado com o Paraguai.
Na década de 1990, Carvalho já estava envolvido com atos ilícitos, como o contrabando de pneus. Anos depois, o ex-major foi pego contrabandeando uísque.
Em 1997, Carvalho já transportava cocaína da Colômbia e da Bolívia até o interior de São Paulo. No mesmo ano, o ex-major foi transferido para a reserva remunerada da Polícia Militar de MS.
No ano seguinte, foi condenado a 15 anos de prisão pelo tráfico de 237 quilos de cocaína.
Após um longo processo e perda de seu posto e patente, sua aposentadoria foi suspensa em 2010. No entanto, em 2016, conseguiu reaver na Justiça o benefício de R$ 9,5 mil mensais.
Após desaparecer de Campo Grande em 2016 e iniciar o processo de logística internacional para o tráfico de drogas, Carvalho foi inserido na lista da Interpol, em 2018.
O megatraficante foi expulso da Polícia Militar de MS em março de 2018.
Em 2019, o narcotraficante foi novamente condenado, desta vez a 15 anos e três meses de prisão, por usar laranjas em empresas de fachada para movimentar R$ 60 milhões.
No Brasil, o Porto de Paranaguá (PR) era o preferido da quadrilha de Carvalho para as remessas de drogas ao Velho Continente.
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