Termo foi incorporado como categoria oficial no Censo a partir de 1950 e é alvo de debates raciais desde então. Hoje, o IBGE considera pardo quem se identifica como: mistura de duas ou mais opções de cor, ou raça, incluindo branca, preta e indígena.
O número de brasileiros que se identificam como pardos chegou a 45,3% da população, segundo os dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado deu à categoria o posto de maior grupo racial do Brasil pela primeira vez na história.
🧑🏽 Mas o que é pardo? No último levantamento, o termo foi definido como: quem se identifica com mistura de duas ou mais opções de cor, ou raça, incluindo branca, preta e indígena.
Porém, o significado da palavra nem sempre foi esse. Desde a fundação do IBGE, em 1936, o conceito mudou de sentido diversas vezes — e houve até anos que não havia explicação exata sobre quem a categoria deveria representar (veja abaixo).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2024/b/Y/cjrxTPQSKzTkVwQdGs4g/raca-pardo.png)
Entenda nesta reportagem quando o termo ‘pardo’ vira categoria oficial, como o significado muda ao longo dos anos e quais são os grupos que reivindicam o conceito da palavra no Censo até hoje.
Pardo como categoria residual
No primeiro levantamento realizado pelo IBGE, em meados de 1940, a maioria da população se identificou como branca:
- Branco — 63,46% da população;
- Preto — 14,63%;
- Amarelo — 0,58%;
- Pardo — 21,20%
- De cor não declarada – 0,10%
“[Naquele ano], pardo era uma categoria residual”, disse Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais. Ou seja, quem respondesse qualquer categoria que não preta, branca e amarela, era classificada como parda.
Porém, mesmo com a abrangência da categoria, Denis Moura, autor do livro “Pardos: a visão das pessoas pardas pelo estado brasileiro”, as pessoas tinham dificuldade de se identificar como parda “porque elas poderiam ser relacionadas com pessoas escravizadas, e isso poderia prejudicar, por exemplo, a carreira das pessoas”.
“Essa omissão, por parte dos mestiços, pardos ou não, seria uma forma de apagar o passado, principalmente entre os pardos mais claros, visto que eles, por conta de terem traços negros ou indígenas menos acentuados, poderiam ser beneficiados com a possibilidade de atingir postos em atividades menos desvalorizadas e, inclusive, obter destaque em cargos públicos”, diz Moura.
Tanto que, nos Censos anteriores — realizados nos anos de 1900 e 1920— não foram incluídas questões sobre cor ou raça. À época, o órgão responsável pela pesquisa era o Diretoria Geral de Estatística (DGE).
Pardo vira categoria
✅ Em 1950, o termo ‘pardo’ foi incorporado como categoria oficial.
Mas, naquele ano, não houve uma definição do que significava a categoria. Os recenseadores — nome dado as pessoas que fazem as perguntas do Censo à população — apenas explicavam o que era amarelo.
“A cor amarela somente se aplica a pessoas de raça amarela (japoneses, chineses, etc. e seus descendentes). Tal cor não se aplica às pessoas que têm a pele amarelada, como as que sofrem de maleita (impaludismo, malária), amarelão, etc.
Isso porque, segundo a coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, existia uma preocupação do governo sobre onde estava localizada a população asiática no país. “O governo queria fazer um mapeamento dos imigrantes [asiáticos]”, afirmou ela.
Na época, o IBGE apontou que a população era dividida em:
- Branco — 61,66%;
- Preto — 10,96%;
- Amarelo — 0,63%;
- Pardo — 26,54%;
- De cor não declarada – 0,21%
Vale lembrar que indígena ainda não era categoria e quem se identificasse dessa forma era incluída na categoria parda.
Somente as áreas que eram controladas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) tiveram a oportunidade de responder como indígenas — mas, mesmo assim, eram incluídas como pardas no final do levantamento.
Fonte: G1
Seja o primeiro a comentar