Espera chega a seis horas, e Procon promete aplicar multas de R$ 50 mil
Em praticamente todas as agências da Caixa Econômica Federal de Campo Grande, o movimento tem sido intenso durante toda a semana. Em época de pandemia, em que a recomendação das autoridades de saúde é de evitar sair de casa, não se aproximar das pessoas, trabalhadores autônomos, desempregados há mais tempo e demitidos recentemente, se aglomeram ou passam horas quase intermináveis em filas, para tentar sacar o benfício de R$ 600.
Quem teve de sair de casa para tentar receber o auxílio emergencial foi Cristina Barbosa de Almeida, recém-desempregada, que precisa do auxílio para pagar suas contas e criar seus dois filhos. Na casa, eles têm agora só a renda do marido dela, que é insuficiente. Perguntada se tem medo de contrair a Covid-19, doença causada pelo coronavírus, ela foi direta na resposta: “É arriscado ficar aqui no meio de todo mundo, mas vou fazer o que? Deus cuida”.
Cristina lembra que tem receio de ser infectada. “Eu tenho medo, eu até estava de máscara, mas tirei para beber água e ela encostou no poste, aí preferi não colocar de novo. É arriscado ficar aqui no meio de todo mundo, mas vou fazer o que? Deus cuida”.
Para tentar atenuar o drama de milhares de trabalhadores sem emprego, caso de Cristina, a Superintendência Estadual de Defesa do Consumidor (Procon) vai reforçar a fiscalização nas agências da Caixa e, se verificar descumprimento de lei municipal que limita em 15 minutos o tempo de espera, multará o banco em até R$ 50 mil.
SEIS HORAS DE ESPERA
O tempo de espera chega até a seis horas. Uma dose a mais de risco e sofrimento para quem precisa de recurso financeiro para atravessar o período de pandemia. É o caso do autônomo Donizete Algemiro de Farias, 54 anos, que viu sua renda diminuir em 90%. “Nós vamos ficar inadimplentes, com o nome sujo, as contas vão ficar acumuladas. Eu já adiei a prestação do meu carro, mas daqui dois meses como vou fazer para pagar? Não tem renda”.
Donizete estava acompanhado da esposa e carregava um banco para ela se sentar enquanto esperava, lamentou precisar ficar na fila, mas explicou que é um caso de necessidade, “é dinheiro para comida. Infelizmente né, vou fazer o que. Mas a gente da graças a Deus do governo ter dado isso para a gente né, se não fosse isso ia estar pior”.
TERCEIRA TENTATIVA
Outra autônoma que se preocupa com a situação financeira dos próximos meses é Clarice Alves Martis, de 54 anos, “desde 2014 eu faço bico, agora está horrível de conseguir serviço”. Hoje foi a terceira vez que se arriscou nas filas de agências, dessa vez chegou lá 6 horas. “Eu fico aqui e até posso acabar doença, mas eu preciso. Essa fila aqui é uma falta de respeito com o trabalhador, com o consumidor. O presidente não gosta de pobre, porque se gostasse não deixava a gente nessa situação”.
Clarice mora sozinha há 20 anos, desde que se divorciou. A senhora, que é simpática e gosta de conversar, disse que apesar do perigo de contrair a Covid-19, precisa da ajuda do auxílio para se manter, “se eu for depender da ajuda da família do meu ex-marido eu estou ferrada, então preciso buscar outras alternativas”, lamentou.
REVERBERAÇÃO
O assunto foi debatido durante sessão ordinária desta quinta-feira (30) na Câmara Municipal. “É uma desorganização que está acontecendo, filas quilométricas, se não ter capacidade de atender as pessoas, que abram outras agências, o que não pode acontecer é essa aglomeração”, disse o vereador Chiquinho Telles (PSD).
Segundo ele, que passou por uma das agências na Avenida Gury Marques, havia mais de mil pessoas do lado de fora da agência. “Pessoas no sol, com criança no colo, o risco de contágio do coronavírus naquele espaço era enorme, estou encaminhando ao superintendente da Caixa, sobre isso. Todas as famílias estão sofrendo, muitas pessoas não têm acesso à internet, precisam colocar mutirão de funcionários e fazer outras medidas para acelerar o atendimento”, disse. Ainda segundo o vereador, a Superintendência para Orientação e Defesa do Consumidor (Procon/MS) já foi acionada e equipes estarão nas ruas para fiscalizar as agências bancárias.
APLICATIVO DEFEITUOSO
Todas as pessoas ouvidas relataram que o aplicativo “Caixa Tem”, que precisa ser usado para gerar um código para efetuar o saque, não funciona. De acordo com o autônomo Ronildo Aparecido Lacerda, 29 anos, ele ficou a noite toda tentando cadastrar a mãe no aplicativo e não conseguiu. Ele também foi até agência, às 7 horas, guardar lugar para a mãe, que tem arritmia cardíaca e não pode ficar muito tempo no sol. “Tenho muito medo de ficar aqui, o tempo todo. Muita gente não está acreditando nisso, mas eu estou. Mas a minha mãe precisa, eu vim por causa dela. Eu não fico nenhum momento sem máscara, mas do pessoal que está aqui, 90% está sem”.
O Superintendente do Procon Estadual, Marcelo Salomão disse que o órgão vai registrar a partir de desta quinta-feira (30) imagens de agências bancárias que desrespeitem medidas de biossegurança. A previsão é que haja operações enquanto durarem os saques dos auxílios emergenciais, a multa pode chegar até R$50 mil. “Tem que ter um plano de contingenciamento, um planejamento, não tem como deixar essa gente na fila na chuva no sol, é um absurdo isso”.
Credito: Correio do Estado
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