Em conversa vazada à CNN, ministro da Cidadania e deputado gaúcho falam sobre substituição do sul-mato-grossense
O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Osmar Terra foram flagrados pela CNN Brasil, tramando sobre a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e ainda fazendo projeções sobre o número de mortes causados pelo coronavírus no Brasil, e a mudança de enfrentamento à Covid-19 – doença causada pelo vírus.
A equipe da CNN flagrou a conversa dos dois depois de ter telefonado na manhã desta quinta-feira para Terra, às 8h33min. O ministro, conforme a emissora, atendeu ao telefonema, nada falou e não desligou a chamada, o que possibilitou que a equipe da emissora tivesse acesso a um diálogo de pouco mais de 14 minutos entre o ministro e o deputado, um dos cotados para substituir o sul-mato-grossense Mandetta na saúde.
COMEÇO DE CONVERSA
No início do diálogo, Terra defendeu a mudança da política do governo: “tem que ter uma política que substitua a política de quarentena. Ibaneis (Rocha, governador do Distrito Federal) é emblemático. Se Brasília começa a abrir… (Mas) ele está com um pouco de receio. Qualquer coisa que fala em aumentar…”, disse, fazendo uma analogia de como as pessoas estão, mesmo com a restrição, saindo às ruas: “supermercado virou shopping”.
Para Terra, a política do atual ministério da Saúde “não está protegendo o grupo de risco” e que uma ideia é estabelecer uma política especial para os municípios onde há asilos.
Eles também calcularam o número de mortos pela Covid-19 no Brasil. Para Ônyx, serão 4 mil mortos, já Terra, aposta entre “3 e 4 mil”.
“Vai morrer menos gente de coronavírus do que da gripe sazonal.” Terra também cita São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza como os locais onde deve estar concentrada a restrição de circulação de pessoas.
MANDETTA
Quando falam sobre Mandetta, Onyx acusa o ministro sul-mato-grossense Luiz Henrique Mandetta de “não ter compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo”. Veja a conversa captada pela CNN Brasil:
Onyx: “Eu acho que esse contraponto que tu tá fazendo…”
Terra: “É complicado mexer no governo por que ele tá…”
Onyx: “Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo.”
Terra: “E ele (Mandetta) se acha.”
Onyx: “Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)…”
Terra: “O ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro.”
Onyx: “Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu estivesse na cadeira (de Bolsonaro)… O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele…”
Terra: “Você viu a fala dele depois?”
Onyx: “Ali para mim foi a pá de cal. Eu já não falo com ele (Mandetta) há dois meses. Aí acho que é xadrez. Se ele sai vai acabar indo para a secretaria do Doria [João Doria, governador de São Paulo].”
Terra: “Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser.”
ENTENDA
Onyx Lorenzoni pertence ao DEM, mesmo partido de Mandetta. Ele começou o governo como ministro da Casa Civil, mas neste ano acabou sendo deslocado para a Cidadania. É, porém, um dos aliados mais fiéis do presidente. Foi ele que desde o início se entusiasmou com o projeto político de Bolsonaro e tem mais trânsito com o setor chamado de “Ala Ideológica” do governo, por ser próximo ao ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Onyx é muito próximo aos filhos do presidente, o senador Flávio, o deputado federal Eduardo e Carlos, vereador pelo Rio de Janeiro.
Já Terra é deputado federal pelo MDB. Deixou o ministério da Cidadania após algumas queixas do Palácio do Planalto, mas principalmente para que Bolsonaro pudesse abrigar Onyx, a quem tem uma grande dívida por ter sido dos primeiros a acreditar e a se empenhar no seu projeto presidencial. Terra e Ônyx são gaúchos.
Esse contexto político ajuda a explicar também porque Terra se aproximou do Palácio do Planalto nesta crise do coronavírus. Seu discurso é alinhado ao que o presidente Jair Bolsonaro tem defendido: flexibilização do isolamento, foco das políticas nos grupos de risco e investimento na hidroxicloroquina.
Mas o que a conversa de ambos mais deixa claro é que a saída de Mandetta continua a ser algo ainda aventado no entorno do presidente Jair Bolsonaro. A CNN Brasil informou que procurou Terra. Ele disse que não ia comentar porque se trata de uma conversa privada. Onyx não se manifestou.
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